Iniciativas proliferam em todo o Brasil e ao redor do mundo, grupos se formam, ganhando resistência como um feixe de varas de bambu. As ecovilas, assentamentos sustentáveis pautados em uma nova relação com a terra e os seres vivos começam a ser construídas em várias regiões.
A orientação que rege tais iniciativas é o respeito à natureza com autonomia e liberdade. Uso de tecnologias ancestrais, mais adequadas e menos impactantes ao meio ambiente. O resgate de sistemas de produção pontuais e locais. Em resumo, fazer uso do que está em volta. Como a coleta das sementes crioulas de plantas, adaptadas à terra e ao clima onde se vai plantar.
A racionalização do uso do dinheiro, buscando soluções simples e eficientes. O envolvimento da comunidade local na construção e no aprendizado da solidariedade, da cooperação e da busca de soluções que beneficiem todos.
Existem inúmeras tecnologias naturais à disposição. Dentre muitas, a bioconstrução, uso terra do local, esgoto tratado em sistemas naturais, dentro do jardim da casa. Economia e aproveitamento da água da chuva, coletada e armazenada em tanques construídos para tal fim.
Todavia, a ocupação da terra deve ser planejada. Um grande projeto que envolva arquitetos, paisagistas e permacultores. A agrofloresta deve fazer parte da pauta de ocupação, melhorando a permeabilidade do solo. Isso faz com que mais água venha à superfície com a riqueza promovida pela reposição florestal.
Sustentável e Barato
As tecnologias ancestrais simples são de grande valor na construção e consolidação das comunidades sustentáveis. Técnicas da agricultura antiga, que não usava máquinas para revolver o solo. Essas técnicas ancestrais, que não faziam uso de insumos químicos industrializados reaparecem como matéria de grande interesse. Entre essas práticas, está a rotação de culturas e a consorciação de plantas. Uso de técnicas de compostagem e fertilização natural do solo, imitando a vida nas florestas. Nas florestas, as plantas, animais e microorganismos interagem criando um meio propicio ao desenvolvimento da vida.
A natureza é pródiga em fornecer os recursos necessários à vida, sem impactar o meio ambiente. Um bom caminho é o uso das tecnologias solares e eólicas. Essas tecnologias são aplicáveis a muitas tarefas como a desidratação, conservação e cozimento de alimentos. Bombeamento de água e geração de energia para consumo local.
Sistemas de Gestão de Ecovilas e Propriedade da Terra
Algumas iniciativas fazem uso do sistema de condomínios, onde cada morador é dono de um pedaço da terra. Essa área privativa, é escriturada em seu nome e ajuda a cuidar de todo o resto, de uso comum. Outros se agrupam em cooperativas que adquirem a terra de uso comum, com planejamento e regras específicas para ocupação. Algumas se assemelham a uma empresa, que busca otimizar e explorar os recursos para geração de renda dos moradores, mapeando talentos e habilidades num processo criativo e envolvente. Outras buscam uma participação mais efetiva de todos, pela concordância e uniformização de pensamentos, sentimentos, crenças e opiniões. É o caso das associações, modelo legal que mais tem sido usado pelos grupos ecovileiros.
A terra pode ser escriturada em nome da ONG. O risco é o projeto tomar rumos inesperados com a posse de uma diretoria que tenha visões divergentes do grupo inicial. Normalmente uma assembléia geral ordinária ou extraordinária pode ser convocada por 1/3 dos membros ativos, de acordo com o estatuto da instituição. Como não há legislação específica para a implantação das ecovilas, modelos associativos são adaptados e nem sempre são eficientes do ponto de vista da preservação e legalidade do projeto. Um bom planejamento deve ser feito, evitando conflitos futuros que podem desestabilizar o inviabilizar a construção da ecovila dos sonhos.
Superando Conflitos Nas Ecovilas
A simples vontade de morar junto à natureza ou resolver o problema de moradia pode ser um bom caminho para a frustração. Ecovilas precisam de um projeto bem resolvido, com a parte legal estruturada de forma a permitir sua consolidação e continuidade. O grande desafio é a superar os conflitos gerados por opiniões divergentes. Buscando a melhor solução para a ocupação da terra, bem estar e progresso da comunidade que irá se estabelecer no local escolhido.